Inativos atingem 45% da força de trabalho em Porto Alegre
Mão de obra inativa soma atualmente 593 mil pessoas em Porto Alegre
Rafael Vigna
Mesmo com uma das melhores taxas de desemprego do País, Porto Alegre exibe um quadro formado pela rápida degradação do mercado de trabalho. Isso ocorre porque, nas últimas duas décadas, a mão de obra da cidade se tornou “envelhecida” e com um volume pesado de pessoas fora da curva de geração de riquezas.
Em 2015, os inativos já somam mais de 593 mil, uma fatia equivalente a 45% da composição do mercado de trabalho. Mudar a principal característica de um dos municípios brasileiros que converge mais rapidamente para o contexto de transição demográfica é um dos principais desafios para o futuro ambiente de emprego na Capital gaúcha. A avaliação é da pesquisadora do Dieese, Lúcia dos Santos Garcia.
Neste contexto, Lúcia revela que, em 1999, a taxa de desemprego da Capital era de 16%. Em 2014, o indicador foi reduzido a mínima de 4,9%. Mas, apenas no primeiro semestre deste ano, foi elevado a 6,7%. Com base nos dados de setembro, a taxa bateu em 7,5% - cerca de 3 pontos percentuais acima dos 4,4% registrados no mesmo período do ano passado.
Ainda assim, o índice pode ser considerado baixo, inclusive na comparação com países como Estados Unidos (5,9%), Japão (4,5%), França (10,8%) e Espanha (22%). Entretanto, Lúcia alerta que é um erro descolar os dados de sua realidade regional. “Não adianta comparar nossa região com a Europa. Se a nossa taxa é reduzida, não significa que deveremos ficar tranquilos em meio à tempestade. Até porque, a nossa taxa é baixa, mas não está relacionada com a nossa capacidade de geração de empregos. Pelo Contrário, é baixa quase exclusivamente pelo aumento do número de inativos”, resume Lúcia.
Um análise dos mais profunda dos dados é capaz de elucidar a questão. Em 1993, eram 530 mil pessoas ocupadas, 462 mil inativos e 63 mil desempregados. Em 2015, são 661 mil ocupados, 593 mil inativos e 47 mil desempregados. “Ao longo do tempo, a capacidade de desenvolver forças produtivas dentro de um sistema capitalista acaba gerando uma produção que vai além das necessidades de consumo. Ou seja, é um sistema cíclico que inclui as crises. A nossa geração teve 12 anos de bonança no cenário dos empregos. Agora, tudo mudou. Essa crise está aí e vai ficar por um bom tempo”, afirma.
O assunto foi um dos temas do 4° Fórum do Trabalho e Emprego de Porto Alegre, realizado na tarde de ontem. Na palestra de abertura do evento, o prefeito de Porto Alegre contribuiu com os debates ao fazer uma ampla análise da migração das vocações regionais produtivas.
Neste sentido, Fortunati avalia que o poder público possui relevância, não só para a atração de investimentos, capazes de gerar emprego e renda, mas também como um dos entes ofertantes de vagas, seja em saúde, educação, ou assistência social, entre outras áreas. “Quanto menor o município, maior a relevância das prefeituras nessa oferta de vagas. Entretanto, de cada R$ 100 arrecadado em tributos nas três esferas de administração (estados, municípios e União), somente R$ 18,00 chegam aos cofres dos 5.570 municípios no País”, comenta.
Fortunati também chamou a atenção para o dinamismo das atividades econômicas. Em 1985, por exemplo, ano em que ele presidiu o sindicato dos bancários de Porto Alegre, o Brasil possuía 800 mil bancários. Desde então, comenta o prefeito, as novas tecnologias da informação foram encampadas pelo setor financeiro que se tornou mais sólido e presente no cotidiano da população.
Por outro lado, os avanços não se traduziram no aumento da massa trabalhadora. Pelo contrário, atualmente, apenas 350 mil bancários, ou seja, menos da metade dos trabalhadores sustentam o mesmo segmento que exibe desempenhos cada vez mais expressivos. De acordo com Fortunati, não faltam exemplos semelhantes.
Entre eles, o prefeito destaca a perda da importância do setor calçadista para o desenvolvimento econômico do Vale dos Sinos, ou o abandono do 4ª Distrito de Porto Alegre pelas indústrias metalúrgicas e têxteis, instaladas na região até meados da década de 1970. “Esse é o mundo do trabalho. É algo dinâmico e que se altera de tempos em tempos”, resume.
Fonte: Jornal do Comércio