Para onde irão os serviços públicos?
Sérgio Roberto Kieling Franco, Professor da UFRGS
Recentemente o ministro da Saúde disse, em uma entrevista para a BBC de Londres, em outras palavras, que o SUS é impossível, que a saída seria a adoção de planos de saúde privados. O irônico foi ele ter dito isso a uma emissora britânica, exatamente o país com o melhor sistema de saúde pública do mundo (seguido muito de perto, até agora, pelo SUS). Indo nessa direção, agora é de se esperar que o ministro da Educação venha dizer que a educação pública é inviável. Daqui a pouco será a vez de o governo aconselhar a população a contratar segurança privada, pois custear a segurança pública é impossível. Isso tudo até faz sentido se a famigerada PEC do teto dos gastos vier a ser aprovada.
O interessante é que, com a aprovação dessa emenda constitucional, os impostos pagos por todos nós não servirão para pagamento dos serviços públicos. Apenas servirão para pagar os credores do governo, leia-se, as instituições financeiras. Isso porque, se o teto dos gastos terá como referência um orçamento de um ano de crise, todo o crescimento da arrecadação, fruto de uma retomada do desenvolvimento, que virá independentemente da aprovação da PEC, não poderá ser investido nos serviços que a população precisa. O fato de ter sido sinalizado que os cortes com saúde e educação não serão imediatos apenas faz uma cortina de fumaça.
Não sou economista, mas entendo de gestão pública e de gestão educacional. Um dos maiores desafios para a garantia de qualidade na educação, seja em que nível for, é que fazer educação é caro. Não se trata somente de salários. Trata-se de investimentos em infraestrutura, em capacitação de pessoal, em inovações, o que é imperioso nos tempos atuais. Os cortes já efetivados no orçamento das instituições federais de educação superior comprometem o simples funcionamento do cotidiano dessas instituições. Que se dirá da qualificação da oferta educacional e do investimento em pesquisa. E aqui cabe a pergunta: um candidato à presidência da República que apresentasse isso na sua plataforma seria eleito? Aliás, alguém votou no governo atual?
Fonte: Zero Hora