Recessão pode levar ao aumento do abuso financeiro contra idosos
Por Mariza Tavares
A recessão de quase 4% no ano passado jogou mais de 3,5 milhões de brasileiros na pobreza – agora temos 10% da população nesta situação. O cálculo foi feito pelo IBGE na divulgação da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) de 2015. Some-se a isso o fato de haver quase 12 milhões de desempregados e o país ter registrado sete semestres seguidos de queda no PIB, o Produto Interno Bruto.
Com a queda na renda, um efeito colateral perverso da crise deverá se ampliar: mais famílias vão depender da aposentadoria de um idoso e o risco de abuso financeiro contra a pessoa mais velha tenderá a crescer. Reportagem do jornal “O Globo” do mês passadomostrou que, de acordo com a Coordenação-Geral dos Direitos do Idoso, vinculada à Secretaria Especial de Direitos Humanos, foram registradas quase 9 mil queixas ao Disque 100 apenas no primeiro semestre, denunciando retenção de salários, extorsão e expropriações de bens de idosos.
A faixa etária com maior incidência de abusos financeiros é entre 71 e 80 anos (36%), quando o idoso fica numa situação frágil. O mais comum é que filhos ou outros parentes se apropriem de seu rendimento, que normalmente já é pequeno e mal dá para cobrir as despesas. Em seguida, é o grupo entre 61 e 70 anos (33%) o mais sujeito a este tipo de violência.
Aliás, assim que a pessoa se aposenta é assediada por ofertas de crédito consignado (incrível como o INSS e os bancos têm uma canal de comunicação tão azeitado!). O aposentado pode cair numa espiral de abusos, frequentemente pressionado pelos familiares: abre mão da sua renda para ajudar no orçamento, se endivida ao utilizar cartões de crédito ou contrair empréstimos “fáceis”, e acaba com o nome sujo.
O mais chocante é o abuso ser cometido por pessoas próximas, que deveriam zelar pelo seu bem-estar. Isso cria uma situação de grande estresse: que pai ou mãe quer denunciar um filho, ainda mais quando, na maioria das vezes, não existe a opção de se afastar daquele ambiente? É preciso acabar com o manto de silêncio que ainda encobre este tipo de perversidade e criar centros de conciliação e até de acolhimento para essas vítimas.
Fonte: g1.bemestar